Manipular embriões humanos? O melhor é ir com calma

Ficha de leitura nº7                                                                                                          17-04-2016 

Unidade de ensino: Património genético

Conteúdo/ assunto: Manipulação de embriões humanos

Resumo: Um equipa de investigadores chineses manipulou embriões humanos para mostrar que a técnica ainda tem de ser afinada e que o tema ainda tem de ser discutido por comissões científicas e de ética.

Uma equipa de investigadores chineses, de um hospital afiliado da Universidade Médica de Guangzhou, manipulou geneticamente embriões humanos para demonstrar que antes de se prosseguirem com estas técnicas ainda é necessária muita discussão sobre o assunto, conforme concluem no artigo publicado na revista científica Journal of Assisted Reproduction and Genetics.

A equipa liderada por Yong Fan introduziu com sucesso o gene CCR5Δ32, usando a técnica CRISPR/Cas (como se fosse um “corta e cose” dos genes), em embriões inviáveis (que não poderiam ser usados na técnicas de reprodução medicamente assistida). O gene CCR5Δ32, que ocorre naturalmente, aparece associado a uma resistência contra a infeção com o vírus da imunodeficiência humana (VIH).

O gene introduzido não conseguiu emparelhar-se como desejado, mas na verdade isso não incomodou os investigadores. “A nossa investigação serve dois propósitos: primeiro, avaliar as tecnologias e estabelecer os princípios para a introdução de modificações precisas em embriões humanos e identificar quaisquer obstáculo técnico importante; segundo, alertar para os potenciais desafios legais e éticos que a sociedade terá de enfrentar graças ao aumento do acesso às tecnologias de engenharia genética.”

Uma das críticas a este trabalho é a utilização de embriões triploides, ou seja, que têm três cópias de cada cromossoma, em vez de duas. “Este artigo, como o de 2015, demonstram a dificuldade na aplicação [da tecnologia CRISPR/Cas9] a embriões humanos, embora de forma imperfeita, tendo em conta o estado triploide dos embriões usados, o que levanta questões sobre o valor científico deste trabalho”, refere num comentário Debra Mathews, adjunta do diretor dos Programas Científicos do Instituto de Bioética Johns Hopkins Berman (Estados Unidos).

A única vantagem deste trabalho, e ainda comparando com a investigação publicada em 2015 na Protein & Cell, é que confirmam os resultados alcançados anteriormente, ou seja, “isto indica a reprodutibilidade da ciência, uma parte importante do processo científico (mostrando que da primeira vez não tinha sido um acaso), que deve aumentar a confiança do público no trabalho”, nota num comentário Peter Donovan, professor de Química Biológica e de Biologia Celular e do Desenvolvimento, na Universidade da Califórnia (Irvine, Estados Unidos).

Já o trabalho proposto por Kathy Niakan, investigadora do Instituto Francis Crick (Reino Unido), pretende usar embriões viáveis – com as duas cópias dos cromossomas -, mas doados para investigação. “Embriões viáveis doados para investigação são a única opção viável para nos referirmos à eficácia e melhorarmos a precisão da edição genética em embriões humanos”, diz num comentário Amander  Clark, professor do Departmento de Biologia Molecular, Celular e do Desenvolvimento, da Universidade da Califórnia (Los Angeles, Estados Unidos).

A utilização de algumas técnicas de edição do genoma dos embriões poderá, no futuro, permitir a introdução de novos genes ou a correção de genes que apresentem mutações. Esta correção promete resolver um determinado problema genético, não só no indivíduo em questão, mas na sua descendência, porque a manipulação genética do embrião é hereditária. E é aqui que reside um dos maiores problemas desta técnica: as alterações serão replicadas na descendência, com as vantagens e desvantagens que isso possa trazer.

Os autores reconhecem que, apesar das questões científicas e éticas levantadas, é necessário continuar a desenvolver técnicas melhores de manipulação genética, seja usando modelos animais, células estaminais ou sistemas in vitro.

Para Amander Clark é claro que esta área de investigação não tem os conhecimentos técnicos suficientes para dar início à manipulação genética com fins reprodutivos. O professor felicita que neste trabalho nenhum embrião tenha sido manipulado com esse objetivo, porque isso “é uma linha ética clara que não deve ser atravessada até que se demonstre que a tecnologia é segura”.

Manipular embriões humanos? O melhor é ir com calma

(cons.17-04-2016)

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